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A REVOLUÇÃO DO CRÉDITO

São Paulo, 03 de agosto de 2021. Caras cotistas, investidores e parceiros,

A capacidade de criar coisas que não existem diferenciou os Homo sapiens de todos os outros seres vivos do planeta. Porém, foi o otimismo com relação ao futuro que determinou o grande crescimento econômico ao longo dos últimos 500 anos. Nesta carta, ainda vamos nos referir ao livro Sapiens de Yuval Noah Harari. Segu


ndo o autor, durante a maior parte da história da humanidade, a economia permaneceu mais ou menos do mesmo tamanho, sendo que o crescimento se deveu principalmente por conta da expansão geográfica e do povoamento de novas terras.

Porém, tudo isso mudou na era moderna, com o surgimento de um novo sistema baseado na confiança no futuro, no otimismo. O crédito é uma forma de construir o presente à custa do futuro. E uma pessoa, ou instituição financeira, só irá conceder crédito se acreditar que a economia irá crescer. Em um cenário no qual as economias não crescem, não há espaço para crédito. Há um verdadeiro rouba-monte, sem a construção de riqueza. Para a loja A prosperar, a loja B precisa falir. Um cenário muito arriscado para todos os credores. A ideia de progresso quebrou esse ciclo vicioso. “Quem acredita no progresso, acredita que descobertas geográficas, invenções tecnológicas e avanços organizacionais podem aumentar a soma total da produção, do comércio e da riqueza humana.” Como o bolo cresce, o excedente econômico pode ser utilizado para pagar o crédito anterior, os juros e fazer o carrossel girar. Na base da confiança A Companhia das Índias Orientais (VOC) foi a primeira multinacional a emitir ações ao público. A empresa foi formada por uma combinação de diferentes empresas de trading, estimuladas pelo governo holandês. Durante seu período áureo nos séculos XVII e XVIII, a empresa detinha monopólios relevantes como a comercialização de especiarias na Índia e café na Indonésia. Foi uma outra coisa, porém, que chamou nossa atenção na história da empresa. Como um país então dominado pelos espanhóis, conseguiu em tão pouco tempo se tornar uma das maiores potências mundiais, criando uma das maiores empresas da história do capitalismo? Existiu um fator não muito bem percebido: o crédito. Os holandeses ganharam a confiança do sistema financeiro global da época por dois motivos principais: 1) Faziam questão de pagar os empréstimos em dia, reduzindo o risco para os credores, e 2) Seu sistema jurídico era independente e protegia os direitos individuais. Com a concessão de crédito, os holandeses literalmente embarcaram na fase das grandes navegações, um negócio extremamente rentável na época. As invasões no Brasil, no século XVII, são reflexos da reputação de bons pagadores dos holandeses. Sobre os governos Em nossas últimas cartas, falamos sobre como o mercado de ações é reflexo de uma constante interação entre os investidores, as empresas e os governos. Nesta carta, exploraremos mais alguns aspectos sobre os governos. O crescimento econômico na era moderna foi fruto também de uma interdependência entre os governos e os interesses privados. Estes últimos não poderiam agir livremente. Regulamentação e tributação sempre foram utilizadas para evitar abusos ou para fomentar medidas populistas. Por outro lado, algumas situações só podem ser feitas ou resolvidas pelos governos. Afinal, dois grandes monopólios são apenas exercidos por eles: o exército e a impressão de dinheiro. Um dado que chama a nossa atenção é que nos últimos 10 anos, os Estados Unidos e a China representaram 86% do crescimento global. Quais fatores levaram a essa ascensão? Já argumentamos que geografia, demografia e tecnologia são determinantes para países e impérios crescerem em períodos longos. Porém, nesses últimos anos dois fatores foram mais determinantes: capacidade de estímulo das economias e tecnologia. A concessão de crédito não é um monopólio estatal. Porém, para atenuar crises, o único agente capaz de estimular a economia é o governo, por possuir o monopólio da impressão de dinheiro. Nessa linha, países que têm uma capacidade maior de emitir moeda, podem criar estímulos de curto prazo maiores para suas economias.

O Índice Global de Inovação, publicado pela Insead, é um ranking de países pela sua capacidade e sucesso em inovação. A tecnologia é um dos principais determinantes de crescimento de países no longo prazo. O gráfico ao lado combina esses dois fatores: a inovação com a capacidade de emissão de moeda. Medimos esse último observando a relevância de cada moeda no mercado de dívida global (quanto maior for a aceitabilidade de uma moeda no mundo, mais essa moeda é utilizada para emissões internacionais).

Os Estados Unidos são um grande destaque. Não só estão bem posicionados no ranking de inovação, mas também têm a moeda mais líquida do mundo.

O gráfico é, porém, um retrato da situação atual. A China hoje já investe mais em pesquisa e desenvolvimento (R&D) que os Estados Unidos. Nos próximos anos, essa diferença crescerá ainda mais.


Isso quer dizer que a China vai ser mais inovadora que os Estados Unidos? No curto prazo, talvez não. Mas o que podemos dizer é que poderemos ver uma desigualdade de crescimento ainda maior entre diferentes países. Países que podem emitir dinheiro e com tecnologia mais avançada poderão crescer mais que os outros. O passado O movimento de consolidação dos mercados continuou no mês passado, com uma maior volatilidade. Apesar da queda da taxa de juros de 10 anos americana, as bolsas de países emergentes caíram. O Ibovespa caiu 3,9%, apesar da alta da bolsa americana (S&P500 subiu 2,3% no mês), e o dólar subiu 4,9%. O futuro Estamos entrando em uma fase mais desafiadora do ciclo econômico. Há um consenso de mercado que o Fed, banco central americano, vai começar em breve a redução de estímulos na economia. Por outro lado, as taxas de juros no mundo devem seguir em patamares baixos e as empresas listadas em bolsa continuam a performar bem. O Brasil pode ser beneficiado por uma recuperação mais forte da economia no 2º semestre. Agradecemos a confiança,



CRÉDITOS FINAIS:

Foto: Shutterstock

Gráficos: Bloomberg, BIS, BofA Global Research e Dahlia Capital.







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