São Paulo, 01 de junho de 2021. Caras cotistas, investidores e parceiras,
“Isso é a ideia mais estúpida que já ouvi na minha vida”. Em 2004, um pequeno grupo de engenheiros, designers e marqueteiros da Apple lançaram a ideia de transformar o iPod (então o reprodutor de música mais bem sucedido do mercado) em um telefone. Steve Jobs, presidente da empresa, rechaçou a ideia.
Sua preocupação era canibalizar um produto extremamente bem-sucedido. Além disso, tinha uma relação de ódio com telefones e com as operadoras de celular. Nenhum aparelho era bom o suficiente para atender suas exigências.
Esse grupo de profissionais insistiu na ideia. Eles perceberam também que precisavam mostrar a Jobs que ele não sabia o que ele não sabia. Alguns aparelhos de telefone já podiam tocar música e era sim possível criar um smartphone que todos amariam utilizar Um iPod. Um telefone. Um navegador de internet. Em um único aparelho. Foi dessa forma que Steve Jobs, em janeiro de 2007, apresentou ao mundo a ideia do iPhone. Em junho daquele ano, o primeiro iPhone foi vendido e os aparelhos agora representam metade da receita anual da Apple. Mike Lazaridis era um garoto prodígio com eletrônicos. No início dos anos 2000, sua empresa era uma das que mais crescia no mundo. Em 2009, a BlackBerry chegou a ter quase 50% do mercado de smartphones nos Estados Unidos. Algumas celebridades como Oprah Winfrey e o ex-presidente Barack Obama diziam que não conseguiam viver sem o aparelho e dormiam ao seu lado. Cinco anos mais tarde, a participação de mercado do BlackBerry caiu para menos de 1%. Talvez alguns de nossos leitores nem sequer tenham chegado a conhecer essa marca. Adam Grant, psicólogo americano, argumenta em “Think Again” que a diferença entre o sucesso do iPhone e o fracasso do BlackBerry ocorreu principalmente pela (in) capacidade das empresas e seus líderes repensarem sobre suas crenças. Ao se deparar com uma ideia nova, Steve Jobs questionou (ou foi levado a questionar) suas visões e aceitou colocar um computador em um aparelho telefônico. Mike, por outro lado, demorou a aceitar que o celular poderia fazer mais do que enviar e-mails criptografados ou que teclar diretamente em botões seria um diferencial competitivo tão grande. Vale a reflexão. Sobre as pessoas Em nossa última carta, argumentamos que, no mercado de ações, vemos uma constante interação entre três agentes diferentes: 1) Investidores, que podem alocar seus recursos em diferentes empresas ou setores, 2) Emissores, que são as empresas negociadas na bolsa, e 3) Governantes ou reguladores, que tentam ao longo do tempo suavizar os movimentos de mercado e da economia. Nesta carta, queremos falar um pouco mais sobre os investidores. Aliás, sobre a pessoas que tomam as decisões de comprar ou vender um determinado ativo, visando rentabilizar suas economias. Estimamos que os investidores brasileiros, incluindo fundos institucionais e pessoas físicas, tenham alocado quase R$500 bilhões na bolsa brasileira desde o 4º trimestre de 2019 (as pessoas físicas representaram cerca de 36% desse valor). O risco mais alto compensou. Estimamos um retorno, nesse período, sete vezes maior que se tivessem alocado no CDI. Nesse mesmo período, quase 3 milhões de novos CPFs entraram na bolsa. A preocupação aqui é que o bonde já passou. Todo mundo já comprou bolsa e ela está na máxima histórica. Pensemos novamente.
O gráfico a seguir mostra a alocação dos investidores brasileiros na bolsa, medido pelo valor investido (fundos e pessoas físicas) comparado com a base monetária brasileira (M4, que inclui moeda emitida, poupança, depósitos nos bancos e títulos públicos e privados), atualmente de R$8,7 trilhões. A linha vermelha é a taxa de juros média da SELIC dos últimos 18 meses (base invertida).
Apesar do aumento da alocação em ações nos últimos anos, esta não nos parece exagerada dado o nível dos juros. Apesar de acreditarmos que a relação entre taxa de juros e alocação em ações tende a ser mais fluida quando o juro está em patamares historicamente baixos, a alocação atual em bolsa é mais condizente com uma taxa de juros mais alta. Recuperando a confiança das pessoas A confiança das pessoas, medida pela confiança do consumidor, ainda está baixa no Brasil. Não era por menos. Estamos com risco de ter uma terceira onda da COVID, o nível de desemprego está muito alto e o ambiente político segue desafiador. É muito difícil de ficar animado com o Brasil. Pensemos novamente.
A vacinação no Brasil deve continuar acelerando nos próximos meses. Em São Paulo, até o fim de junho, alguns grupos com comorbidades e maior exposição, bem como toda a população acima de 60 anos de idade, deverá ter recebido pelo menos a primeira dose da vacina. Este último grupo representa cerca de 90% dos óbitos por COVID.
O crescimento econômico tem surpreendido positivamente. O gráfico mostra a diferença acumulada a cada 6 meses entre o crescimento mensal da economia brasileira e a expectativa. É o maior nível nos últimos 10 anos. Não é mais exagero pensarmos em um crescimento da economia de 5% neste ano. O crescimento também traz outros benefícios indiretos. A situação fiscal do país melhora e alguns economistas sugerem que a relação dívida/PIB pode terminar o ano abaixo de 85% (estimativa no início do ano era próxima de 90%). Estamos também perto do pico da inflação, que poderá também ajudar o Banco Central a sinalizar o final do ciclo de aperto de juros nos próximos meses. As pessoas serão vacinadas. A economia tem surpreendido para cima. A inflação vai começar a ceder. O desemprego também deve começar a cair. Nosso índice de miséria (inflação + desemprego) está muito perto do topo.
O passado Os mercados de risco globais continuaram um movimento de consolidação nos níveis atuais. O Brasil teve um destaque positivo por uma melhora com as expectativas da economia doméstica. O Ibovespa subiu 6,2%, contra uma alta de 0.6% do S&P500 (bolsa americana). O futuro Seguimos com a tese que a inflação de preços de ativos vai continuar a elevar os preços das ações (apesar de repensarmos essa tese todos os dias!). O Brasil pode continuar sendo beneficiado por uma expectativa de uma maior recuperação da economia no 2º semestre. Desde o início, o Dahlia Total Return teve um retorno acumulado de 90,4% (início em mai/18), o Dahlia Ações de 48,1% (jun/19) e o Dahlia Global Allocation de 37,1% (dez/19). Esses retornos são líquidos de taxa de administração e performance, mas brutos de impostos.
Obrigado pela confiança,
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