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SOBRE INSTITUIÇÕES E INOVAÇÕES

São Paulo, 02 de junho de 2020. "As armas e os Barões assinalados Que da Ocidental praia Lusitana Por mares nunca de antes navegados Passaram ainda além da Taprobana" Caros cotistas, investidores e parceiros,

Os Lusíadas é uma das principais obras da língua portuguesa. Escrita por Luís Vaz de Camões, foi publicada em 1572. Seus versos celebram as conquistas do povo português e a época das grandes navegações. Não era por menos. Como um pequeno país da península ibérica virou a maior potência global da época? Algumas décadas mais tarde, os primeiros imigrantes ingleses estabeleciam as primeiras colônias na América do Norte. Os peregrinos buscavam a liberdade religiosa, fugiam da opressão política ou, posteriormente, da falta de emprego causada pela Revolução Industrial. Como esse grupo de pessoas criou as bases para a maior potência dos dias atuais?


Em nossa carta de janeiro deste ano, escrevemos que, no médio e longo prazo, os preços das ações perseguem os lucros das empresas. Os lucros das empresas seguem, em países desenvolvidos, o crescimento da economia. Ao longo da história, três fatores principais explicam porque algumas nações crescem mais que outras em longos períodos de tempo: 1) a força das instituições, 2) tecnologia e inovação e 3) demografia e geografia. São esses fatores que nos fazem acreditar que a Pax Americana continuará vigente nas próximas décadas. Iremos abordar os dois primeiros temas nesta carta. Os peregrinos e os pais fundadores A constituição americana de 1787 é a constituição escrita mais antiga da atualidade. Em seus três primeiros artigos, ela trouxe a separação dos três poderes (Legislativo, Executivo e Judiciário) e uma grande inovação para a época: o sistema presidencialista de governo. De onde surgiram os ideais para a criação de um documento tão duradouro? A colonização inglesa na América do Norte foi muito diferente da ibérica na América Latina. Os ingleses protestantes fugiam de uma perseguição religiosa dos anglicanos, predominante na época.

Esse aspecto religioso trouxe alguns fatores determinantes para o desenvolvimento da comunidade local. Os colonos estabeleceram sociedades que eram mais alfabetizadas que a própria matriz. O motivo era simples: protestantes pregam a livre interpretação da bíblia pelo homem. E para poder interpretá-la, ele precisa saber ler! Além disso, a base protestante calvinista tinha como valores fundamentais o trabalho e a propriedade privada, imbuindo um grande sentimento empreendedor na sociedade.

Os reflexos disso são duradouros. O governo foi desenhado para servir ao povo e não ao contrário. O cientista político Francis Fukuyama escreveu em State Building: “As instituições americanas são deliberadamente desenhadas para enfraquecer ou limitar o exercício do poder do estado. Os Estados Unidos nasceram em uma revolução contra a autoridade do estado, (...) expressa em restrições de poder pela constituição, com proteções claras de direitos individuais, a separação dos poderes e o federalismo.” Fukuyama também argumenta que instituições e formas de governo podem ser exportadas ou copiadas. Copiamos, por exemplo, o modelo presidencialista e até 1968 oficialmente nos chamávamos Estados Unidos do Brasil. Porém, o sucesso dessas instituições depende de uma implementação local. E normas, valores e culturas são extremamente difíceis de se replicarem. Várias organizações internacionais que existem hoje, como a ONU e o FMI, foram criadas após a 2ª Guerra Mundial. Estas foram espelhadas nas instituições dos países vencedores da guerra, ou seja, seguindo padrões americanos. Por mares nunca de antes navegados Quem respondeu tecnologia para a primeira pergunta da carta acertou. A navegação em águas profundas foi o maior avanço tecnológico dos séculos XV e XVI. O desenvolvimento das caravelas, o uso de instrumentos náuticos e a coragem dos navegadores permitiram a transformação de um país com pouco mais de 2 milhões de pessoas em uma potência global. Nossos antepassados. Está em nosso sangue! No final do século XV, o mundo vivia um domínio do Império Turco-Otomano, que controlava o comércio entre a Europa e a Ásia, principalmente a rota da seda. O transporte dos produtos, porém, era baseado em uma navegação limitada e costeira.

De repente, a tecnologia mudou. As caravelas portuguesas traziam duas grandes inovações. Sua construção se baseava em um esqueleto interno sobre as quais pranchas de madeira eram presas. Isso permitia embarcações mais leves, com cascos mais altos, que conseguiam enfrentar mares desconhecidos. Além disso, os navegadores inovaram ao usar também a vela latina, triangular, que permitia com que as embarcações navegassem em qualquer direção, inclusive bolinando (zigue-zagueando contra o vento).

Os navegadores também aperfeiçoaram alguns instrumentos já existentes, como a bússola, o astrolábio, a balestilha e o quadrante. Com eles, os navegadores sabiam precisamente a sua latitude e, portanto, não se perdiam mais no meio dos oceanos e não precisavam observar a costa o tempo todo. A cartografia também teve um trabalho fundamental. Com mapas detalhados, os navegadores podiam definir quais as melhores rotas para circunscrever a África, levando em consideração as mudanças de temperatura e de correntes. É como se os portugueses tivessem o domínio das naves espaciais (ou vaivéns espaciais em luso) da SpaceX, o Waze e o Google Maps. Os retornos financeiros eram imensos... Alguns documentos sugerem que os retornos eram mais de 50x o valor investido em uma viagem, mesmo considerando todas as perdas de embarcações. A transferência de riqueza da Europa para os turcos acabaria ali. O domínio português durou mais de 100 anos. Porém, a tecnologia, diferente da cultura, se move rapidamente. Os segredos não ficaram contidos para sempre e foram copiados. Até encontrarem um país com uma geografia mais favorável. A Inglaterra, somando o fato de ser uma ilha a uma política de fomento à construção naval, possuía uma frota marítima superior e, ao se apropriar da tecnologia de navegação em águas profundas, logo dominou as novas rotas comerciais, desbancando os portugueses. Tecnologias permitem crescimentos acelerados. Mas elas se movem até encontrar geografias ou instituições mais adequadas. A SpaceX é uma empresa americana, fundada por um sul-africano. O Google foi fundado por um americano e um russo, enquanto estudavam em uma universidade americana. O Waze foi criado em Israel, mas comprado pelo Google em 2013. Somente quando paramos, percebemos: a tecnologia americana está por todos os lados. O passado Maio continuou o movimento de alta nas bolsas que vimos em abril. Apesar de apenas iniciarmos a ver sinais de estabilização da COVID-19 no Brasil, a expectativa de recuperação das economias desenvolvidas e um estímulo muito grande por parte dos governos sustentaram as altas das bolsas no mundo. E o futuro? Ainda existem muitas incertezas no mercado, principalmente pela COVID-19 e a desaceleração da economia global. Porém, os preços dos ativos ainda nos parecem atraentes. Seguimos com uma carteira balanceada, focada em bolsa (Brasil e EUA), dólar, ouro e NTNB. Acabamos de completar dois anos de gestão do Dahlia Total Return. Desde o início em maio/18, o retorno acumulado do fundo foi de 49,4%, equivalente a 427% do CDI e 35,6% acima do Ibovespa, porém com um risco 56% inferior. Obrigado pela confiança, Dahlia Capital.












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