Mudança de foco
- gtak67
- 6 de nov.
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São Paulo, 06 de novembro de 2025.
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Mudança de foco

Nos últimos anos, a agenda ESG (sigla em inglês para Ambiental, Social e Governança) perdeu fôlego no mundo. Com juros globais elevados e pressões inflacionárias, investidores passaram a priorizar retornos financeiros imediatos em detrimento de metas de longo prazo, muitas vezes percebidas como custosas e de impacto incerto. O que era hype em 2021 tornou-se uma agenda questionada em 2025.
Nem quente, nem frio. Na Dahlia, acreditamos que as mudanças climáticas são problemas reais e impõem grandes desafios para a sociedade. Acreditamos também que a incorporação desses aspectos ESG em um processo de investimentos pode torná-lo mais robusto, assim como a incorporação de uma análise macroeconômica ou fundamentalista o faz. Isso também não mudou.
Mas algumas coisas importantes mudaram. O empresário americano Bill Gates publicou na semana passada um artigo sobre mudanças climáticas que vale uma reflexão. Ele traz três “verdades” sobre mudanças climáticas que nos parecem particularmente relevantes:
Mudança climática é grave, mas não é o fim da civilização - Avanços tecnológicos reduziram drasticamente as projeções de emissões. Há 10 anos, a Agência Internacional de Energia (AIE) previa que o mundo emitiria 50 bilhões de toneladas de CO₂ em 2040. Hoje, essa estimativa caiu para 30 bilhões — uma redução superior a 40% em apenas uma década.

Isso ocorreu porque o Green Premium — o custo adicional das alternativas limpas — caiu muito, às vezes chegando a zero ou negativo, em energia solar, eólica, baterias e veículos elétricos, tornando essas soluções tão baratas quanto opções fósseis. O contínuo desenvolvimento de novas tecnologias em aplicações que o Green Premium ainda é alto deveria acelerar a transição para uma economia com zero emissões.
Temperatura não é a melhor métrica de progresso climático - Gates argumenta que as estratégias climáticas precisam priorizar também o bem-estar humano, não apenas cortes de emissões. Em alguns casos, a obsessão por metas de carbono pode sacrificar a qualidade de vida, especialmente nos países mais pobres. Reduzir CO₂ sem reduzir pobreza não resolve o problema climático — apenas o desloca para outra dimensão.
Saúde e prosperidade são a melhor defesa contra mudanças climáticas - Crescimento econômico e saúde pública reduzem a vulnerabilidade climática. Um estudo da Universidade de Chicago mostra que o crescimento projetado dos países pobres até o fim do século poderia reduzir pela metade o número de mortes atribuídas a mudanças climáticas.
Hoje, o calor extremo causa cerca de 500 mil mortes por ano — número que vem caindo graças ao acesso ao ar-condicionado. Já o frio mata quase dez vezes mais. No futuro, as mortes por calor subirão, mas as por frio cairão; o impacto líquido será concentrado em países em desenvolvimento — e prosperidade acelera a adaptação.
O que isso reforça?
As visões de Gates dialogam com o que escrevemos em 2021: vivemos no Antropoceno, época em que a atividade humana altera o sistema climático desde a Revolução Industrial, sucedendo o estável Holoceno.
John Elkington, criador do conceito de Triple Bottom Line (lucro, pessoas e planeta), propõe em Green Swans uma visão otimista: mudanças exponenciais que geram riqueza econômica, social e ambiental simultaneamente.
Em nossa visão, a solução depende da combinação entre:
Demografia: Millennials e Gen Z já representam 58% do eleitorado global e serão 85% em 2040; herdarão US$ 68 trilhões em 20 anos e priorizam clima, saúde e emprego.
Vontade política: Novas políticas e regulamentações facilitam e premiam o financiamento de iniciativas que incentivem a redução de emissões de gases de efeito estufa.
Tecnologia: A Lei de Moore + Lei de Wright reduziram em 96% o custo dos painéis solares em 20 anos.
O Green Premium virou negativo — e isso muda tudo. “Prêmio verde” é o custo adicional de se utilizar uma alternativa ambientalmente menos impactante. Esse prêmio não só já caiu bastante, mas em muitos casos, deixou de ser custo extra e passou a ser vantagem econômica.
No Brasil, por exemplo, a expansão da geração solar já gera episódios de curtailment — excesso de oferta reduz a energia que pode ser despachada no sistema.
Vale lembrar, porém, que esse fenômeno ainda não se aplica a todos os setores. Transporte pesado, siderurgia, cimento e construção seguem como grandes emissores. Novas tecnologias estão em desenvolvimento — e provavelmente veremos avanços relevantes nos próximos anos.
A conclusão de Gates
O sucesso climático deve ser medido pelo impacto no bem-estar humano, não apenas pela redução de temperatura. Energia, saúde e agricultura precisam estar no centro das estratégias. Desenvolvimento é adaptação.
Sob a liderança brasileira na COP30, adaptação e desenvolvimento humano ganharão destaque inédito. O apelo é por um pivô estratégico: priorizar o que salva vidas e melhora qualidade de vida, garantindo que todos, em qualquer lugar ou clima, tenham chance de viver bem.
Como isso se traduz em investimentos na Dahlia? Nossos leitores sabem que ESG é parte estrutural do nosso processo de investimentos, mas também um tema macroeconômico e de geração de valor. Já investimos, por exemplo, em:
metais ligados à transição energética (cobre, lítio, vanádio)
fontes alternativas de geração de energia (gás, urânio)
tecnologias de armazenamento de energia (baterias)
Acreditamos que o movimento de descarbonização global continuará. Seguimos investindo em teses relacionadas a esses temas como: fontes contínuas de geração de energia (como hidrelétrica), gás natural como sendo parte da transição energética (mais limpa que outros combustíveis fósseis) e metais que reduzem emissões em processos produtivos.
É um tema central para nós — técnico e em constante evolução. Estamos abertos à troca de ideias com nossos leitores.
O futuro
A grande surpresa positiva de 2025 tem sido o desempenho mais fraco do dólar globalmente. Contudo, notamos maior estabilidade recente, sustentada por fundamentos melhores da economia americana e pela redução do risco geopolítico, como a possibilidade de um acordo tarifário entre EUA e China.
Esse cenário, combinado com atividade doméstica mais forte, pode atrasar o início do ciclo de corte de juros no Brasil. Alguns economistas projetam o primeiro corte apenas para janeiro ou março. Seguiremos monitorando.
Nosso Posicionamento
Dahlia Total Return: A alocação segue acima do neutro, concentrada em ativos brasileiros, principalmente ações. Mantemos posições ativas em bolsa, especialmente nos setores de bancos, energia elétrica e cíclicos domésticos.
Dahlia Macro Global: Seguimos comprados em ações dos Estados Unidos e de países emergentes, incluindo Brasil e China. Em outros ativos, seguimos posições aplicadas em juros em emergentes, mas com uma exposição limitada em moedas.
Dahlia Ações: Seguimos 95% comprados em ações no Brasil, em linha com o mandato do fundo. Seguimos posicionados principalmente em bancos, utilities e cíclicos domésticos.
Agradecemos a leitura, a escuta e a confiança,
Equipe Dahlia
+55 11 4118-3147
CRÉDITOS FINAIS:
Imagem: Chat GPT
Gráfico 1: gatesnotes.com



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