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O Um Corte

“Um Anel para a todos governar,

Um Anel para encontrá-los,

Um Anel para a todos trazer

e na escuridão aprisioná-los

Na Terra de Mordor onde as Sombras se deitam”

JRR Tolkien


São Paulo, 08 de outubro de 2024.


Caros(as) cotistas e parceiros(as),



"Eu queria que isso não tivesse acontecido no meu tempo", disse Frodo. "Eu também", disse Gandalf, "assim como todos aqueles que vivem para ver tempos como este.”


O diálogo acima poderia ter acontecido atualmente na Faria Lima, entre dois gestores de fundos no Brasil. Mas não. Frodo e Gandalf, personagens criados por John Ronald Reuel Tolkien, estavam nas Minas de Moria, nas profundezas das Montanhas Nebulosas, na Terra-média, mundo fictício criado pelo autor.


No momento da conversa, Frodo está desolado e sobrecarregado pela grande responsabilidade que tem. Ele lamenta o fato de estar vivendo em um tempo tão sombrio e perigoso. Frodo, na trilogia “O Senhor dos Anéis”, é incumbido de carregar o Um Anel e destruí-lo.


Na saga de Tolkien, os Anéis do Poder foram criados e dados a diferentes raças para aumentar seus poderes. Porém, o Um Anel foi forjado secretamente, sendo o mais poderoso de todos, controlando todos os outros anéis e manipulando os seus portadores.


Gandalf sabiamente continua o diálogo acima com uma ponta de esperança: “Mas isso não cabe a eles decidir. Tudo o que temos de decidir é o que fazer com o tempo que nos é dado."


Chimérica

A globalização contemporânea é um fenômeno que acontece desde a segunda metade do século XX. Após a Segunda Guerra Mundial, a globalização entrou em uma nova fase, marcada pela criação de instituições internacionais como a Organização das Nações Unidas (ONU), o Fundo Monetário Internacional (FMI) e o Banco Mundial, que facilitaram a cooperação econômica entre nações. O avanço das tecnologias de comunicação e a liberalização do comércio internacional aceleraram ainda mais o processo.


Tão importante quanto a criação desses organismos multilaterais foi a entrada da China na Organização Mundial do Comércio (OMC). A China entrou oficialmente na OMC em 11 de dezembro de 2001, após 15 anos de negociações. A entrada da China integrou o país à economia global, permitindo-lhe ter acesso a mercados internacionais mais amplos e facilitando o crescimento de suas exportações.


Os dois países que mais se beneficiaram da globalização foram China e Estados Unidos. Para os chineses, o rápido crescimento econômico permitiu que centenas de milhões de pessoas emergissem da pobreza. Para os Estados Unidos, não só o acesso a novos mercados se facilitou, mas também a importação de produtos baratos contribuiu para que o país crescesse, sem um impacto significativo na inflação. A globalização criou uma relação de interdependência entre China e Estados Unidos.


"Chimérica" foi um termo criado pelo historiador Niall Ferguson e o economista Moritz Schularick para descrever a relação simbiótica entre China e Estados Unidos, principalmente no campo econômico. Eles argumentam que a alta taxa de poupança chinesa e o excesso de consumo dos americanos contribuíram para um período de alta criação de riqueza. A China acumulou grandes reservas de dólares e investiu nos títulos do governo dos EUA, mantendo os juros baixos.


Mas talvez haja um outro lado da Chimérica. Talvez precisemos analisar as duas economias em conjunto. Esse tipo de raciocínio nos permitiu antever, por exemplo, que a inflação americana cairia, com a China em deflação.

Porém, apesar dessa relação de interdependência, é importante manter a noção da hierarquia entre essas duas economias. Em nossa visão, os Estados Unidos continuarão a ser a potência dominante global nas próximas décadas.


Em setembro, o movimento mais aguardado do mês foi um corte de juros acima das expectativas do Fed, banco central americano. E o evento mais inesperado foi a sequência de vários anúncios de estímulos na China, menos de uma semana depois do Fed.


O Um Anel falou. Os outros seguiram.


Será que agora vai?

Nosso processo de investimento combina a análise do cenário macro, principalmente global, e o micro específico de todos os ativos que compõem nossas carteiras. Do lado macro, um dos focos principais é identificar onde estão os países dentro do ciclo macroeconômico.


O gráfico abaixo mostra uma relação entre o diferencial do crescimento do PIB da China e dos Estados Unidos, juntamente com a performance relativa da bolsa de países emergentes vs o S&P500. É fácil perceber que há uma relação entre as duas curvas.

Considerando os anúncios de estímulos na China nas últimas semanas, questionamos se de fato o crescimento chinês relativo ao americano vai voltar a acelerar ou se as medidas almejam somente estabilizar o crescimento nos patamares atuais.


De qualquer forma, o ponto mais relevante é que depois de 4,5 anos, o Fed voltou a cortar juros. Essa deveria ser uma ótima notícia para os ativos de risco pelo mundo. O corte de juros nos Estados Unidos (o Um Corte) permite que outros bancos centrais pelo mundo cortem os juros também. Nas próximas cartas, junto com a mais famosa trilogia de Tolkien, discutiremos como a alocação de capital pode mudar nos próximos anos.


O futuro

Estamos atentos aos desenvolvimentos dos anúncios de estímulos na China. De acordo com os anúncios recentes, os estímulos não parecem como no passado, com um grande investimento no mercado imobiliário e em infra-estrutura, que beneficiaram o mercado de commodities.


Nos Estados Unidos, a economia parece seguir mais forte do que o esperado, que pode ser positiva para os lucros das empresas, mas pode significar cortes menos agressivos de juros.


Por aqui, mantemos uma visão cautelosa com a situação fiscal e com a direção dos juros, porém com alguns fundamentos positivos (crescimento de PIB e balança comercial, por exemplo). Assim como Gandalf, buscamos as oportunidades que este tempo nos dá.


No Dahlia Total Return, reduzimos o nível de risco da carteira, principalmente diminuindo a exposição em ações no Brasil e aumentando na moeda. O principal componente da carteira continua sendo em ações no Brasil, pois ainda enxergamos uma assimetria positiva de valuation, com taxas de retorno na média próximas a IPCA + 12% e uma alocação muito baixa. Mantemos posições em ações nos Estados Unidos, principalmente no setor de tecnologia.


No Dahlia Global Allocation, reduzimos em setembro nossa posição de dólar contra moedas de países emergentes, dado o nível e o movimento dos bancos centrais. Seguimos com posições compradas em ações nos Estados Unidos, principalmente no setor de tecnologia.


No Dahlia Ações, fizemos algumas alterações na composição da carteira do fundo, principalmente aumentando a exposição em commodities e reduzindo em empresas mais sensíveis à alta de juros.


Agradecemos a leitura, a escuta e a confiança,


Equipe Dahlia

+55 11 4118-3147














CRÉDITOS FINAIS:


Imagem: Dall-e

Gráfico 1: Bloomberg e Dahlia

Gráfico 2: Bloomberg e Dahlia

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