3, 2, 1 Cut!
- gtak67
- 5 de set.
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São Paulo, 05 de setembro de 2025.
Caros(as) cotistas e parceiros(as),
3, 2, 1 Cut!

Poderia ser uma peça de ficção. Poderia se passar em um mercado emergente. Poderia até ser manchete de um jornal sensacionalista. Mas não: é a vida real, nos Estados Unidos. Nas últimas semanas, a volatilidade do mercado refletiu as pressões cada vez mais explícitas do presidente Donald Trump sobre o Federal Reserve (Fed), o banco central americano.
Em uma ação sem precedentes, Trump anunciou a demissão da governadora Lisa Cook, acusando-a de fraude hipotecária, ao mesmo tempo em que intensificou ataques públicos a Jerome Powell, exigindo cortes de juros imediatos e ameaçando sua destituição. A nomeação de aliados para cargos estratégicos reforçou o temor de politização do banco central e acendeu alertas sobre a independência da política monetária americana.
Powell, até aqui, tem defendido a autonomia do Fed, mas os sinais de desaceleração econômica o obrigaram a mudar o tom. Com o crescimento perdendo fôlego e o mercado de trabalho esfriando, Powell indicou que cortes de juros podem ocorrer em breve. A inflação ainda mostra resiliência, em parte pelo efeito das tarifas impostas pelo governo, mas o risco agora é o de um pouso forçado da economia.
Em agosto, a economia americana criou apenas 22 mil novos postos de trabalho, enquanto revisões anteriores retiraram mais de 250 mil vagas. O desemprego ainda não reflete políticas tarifárias que elevaram custos, retraíram investimentos e pressionaram empresas dependentes de importações. A redução da imigração, com mais de 800 mil trabalhadores a menos desde abril, e os cortes no setor público ampliam a fragilidade. É o que poderíamos chamar de “velocidade de estol”: quando o motor da economia perde sustentação e a hesitação em agir rapidamente pode agravar a queda.
Além disso, o movimento de corte de juros já se propaga ao redor do mundo. A taxa de juros na Zona do Euro já caiu pela metade (de 4% para 2%) e mesmo países emergentes, como o Chile já retomaram o ciclo de queda de juros. O gráfico abaixo mostra as taxas de juros de alguns países desde 2010.

3, 2, 1 Corte!
“A política monetária está restritiva com alguma segurança”, disse Gabriel Galípolo, presidente do Banco Central do Brasil. Com a taxa SELIC em 15%, também aqui o cenário aponta para início de um ciclo de afrouxamento. O juro real ex-ante (SELIC menos inflação esperada para os próximos 12 meses) permanece em patamar elevado, refletindo expectativas de inflação em queda diante de uma atividade que surpreende negativamente. Essa combinação abre espaço para cortes de juros, sem comprometer a âncora de preços.
O gráfico abaixo mostra o histórico dessa taxa de juros. A taxa atual já supera os anos de 2015-16 e 2022-23, quando tivemos os últimos grandes choques de inflação no Brasil.

O impacto desse movimento tende a ser significativo. Historicamente, ciclos de baixa de juros no Brasil são acompanhados de valorização do mercado acionário. Taxas menores reduzem despesas financeiras, elevam o valor presente dos fluxos de caixa e aumentam a renda disponível do consumidor, impulsionando o faturamento das empresas. É uma alavanca que multiplica as perspectivas de lucro.
Outro aspecto relevante é a dinâmica de fluxos internacionais. Com Fed, BCE e BCB em ciclos de afrouxamento, a busca global por rendimento tende a reposicionar capitais para emergentes. O real pode se beneficiar dessa liquidez adicional, ainda que o risco fiscal local limite ganhos mais expressivos. Essa interação entre política monetária doméstica e fluxos externos será determinante para a trajetória dos ativos brasileiros ao longo do semestre.
Para os mercados, tudo precisa estar equilibrado. Nos EUA, o desafio é evitar que o barulho político corroa a credibilidade do Fed. Além disso, uma desaceleração mais brusca do mercado de trabalho pode reacender a preocupação de uma recessão econômica.
No Brasil, a desaceleração econômica também chama atenção. Para o mercado de ações, um PIB muito mais fraco pode levar a um ciclo de revisão negativa de lucros para as empresas, que pode contrabalancear o impacto positivo dos cortes de juros. O gráfico abaixo mostra a surpresa acumulada das vendas no varejo e produção industrial no Brasil. Já há alguns meses esses indicadores vêm surpreendendo negativamente.

Em ambos os casos, o ciclo que se inicia não representa um final em si, mas a abertura de um novo ato. O corte de juros é apenas o comando do diretor: a cena seguinte ainda precisa ser escrita, ela trará novas variáveis, e o mercado terá que ponderar se estarão equilibradas.
Mesmo diante desse quadro, nossa visão é construtiva. Vemos oportunidade em setores domésticos mais sensíveis ao ciclo de juros, como o financeiro, mas reconhecemos que a visibilidade de aumento de lucros ainda é limitada. Por isso, mantemos um portfólio balanceado, combinando exposição a essas teses com proteções em ativos mais defensivos, mas em um nível de exposição elevado.
Nosso Posicionamento
Dahlia Total Return: A alocação segue acima do neutro, concentrada em ativos brasileiros, principalmente ações. Mantemos posições ativas em bolsa, especialmente nos setores de bancos, energia elétrica e cíclicos domésticos.
Dahlia Macro Global: Seguimos comprados em ações dos Estados Unidos e de países emergentes, incluindo Brasil e China. Em outros ativos, seguimos posições aplicadas em juros em emergentes, mas com uma exposição limitada em moedas.
Dahlia Ações: Seguimos 95% comprados em ações no Brasil, em linha com o mandato do fundo. Não fizemos grandes alterações na carteira e seguimos posicionados principalmente em bancos, utilities e cíclicos domésticos.
Agradecemos a leitura, a escuta e a confiança,
Equipe Dahlia
+55 11 4118-3147
CRÉDITOS FINAIS:
Imagem: Chat GPT
Gráfico 1: Bloomberg e Dahlia
Gráfico 2: Bloomberg e Dahlia
Gráfico 3: Bloomberg e Dahlia



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