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A ERA DO GELO 2

São Paulo, 05 de outubro de 2021.


Caros(as) cotistas e parceiros(as),


A volatilidade da temperatura na Terra se assemelha ao que vemos nos mercados de ações.


Um estudo da Instituição Smithsonian, uma organização americana de pesquisa associada a vários museus, tentou estimar o clima na Terra dos últimos 500 milhões de anos. Os resultados são impressionantes. Parte por conta da criatividade dos cientistas em encontrar formas de estimar a temperatura do planeta, seja nas rochas, nas crostas de gelo ou fósseis encontrados pelo caminho.


Parte também por conta dos resultados em si. Engana-se quem imagina que a Terra esteja só agora passando por um aquecimento global. Na verdade, na maior parte dos últimos 500 milhões de anos, a temperatura foi mais alta da que estamos vivendo hoje, conforme mostra o gráfico abaixo.


Mas por que a temperatura da Terra varia com o tempo? Os estudos científicos apontam para várias causas. Algumas delas são independentes do que acontece na superfície terrestre ou com os seres vivos que a habitam. Os ciclos solares, por exemplo, variam a intensidade que a radiação solar atinge a Terra ao longo do tempo.


Além disso, o movimento de translação e o próprio eixo da Terra sofrem pequenas oscilações ao longo de centenas de milhares de anos. Com uma inclinação mais obtusa, as calotas polares ficam mais expostas ao sol, promovendo um aquecimento global.


Porém, estudos indicam que o maior contribuidor para a oscilação de temperatura na Terra é a emissão de gases de efeito estufa (GHG), mais especificamente a emissão de gás carbônico (CO₂). Os GHG estão naturalmente presentes na atmosfera e absorvem parte da radiação infravermelha emitida pelo Sol e refletida pela Terra.

Ao limitar o escape desse calor ao espaço, a temperatura do planeta aumenta. Sem eles, a temperatura seria extremamente baixa (em torno de -18º C) e inabitável para grande parte das espécies vivas hoje.


Ao longo da história, cientistas apontam que os ciclos de aumento ou diminuição de CO₂ na atmosfera coincidem com os ciclos de variação da temperatura.


O Máximo Térmico do Paleoceno-Eoceno (PETM), por exemplo, foi um período de 170 mil anos, que aconteceu cerca de 56 milhões de anos atrás. Crocodilos podiam viver nas calotas polares e a região da linha do Equador era praticamente inabitável. A temperatura da Terra era na média 12º C maior que a atual.


Cientistas acreditam que o principal motivo para o PETM foi uma intensa atividade vulcânica, que liberou uma enorme quantidade de CO₂ na atmosfera, aumentando os impactos do efeito estufa, aquecendo o planeta.


O ciclo de equilíbrio natural do carbono é um ciclo longo. O aumento do CO₂ na atmosfera estimula, por exemplo, a propagação de algas marinhas que o absorvem e o sedimentam no fundo do oceano. Em uma escala de centenas de milhares de anos, o ácido carbônico que cai com as chuvas reage com o cálcio e o magnésio da crosta terrestre formando rochas sedimentares. A maior parte do carbono do mundo está presa nessas rochas. Isso fez com que as temperaturas eventualmente caíssem, após o PETM.


O que isso tudo significa? A evidência científica aponta para uma relação direta entre a quantidade de carbono na atmosfera e a oscilação da temperatura do planeta. A Terra possui mecanismos naturais de equilíbrio, para compensar esses ciclos de carbono. Porém, esses ciclos são longos, de centenas de milhares ou de milhões de anos.


Estamos vivendo no Antropoceno, a era dos Humanos. A queima de combustíveis fósseis e outras atividades após o início da Revolução Industrial têm aumentado significativamente a quantidade de CO₂ na atmosfera e, por consequência, a temperatura do planeta.


Oscilações da temperatura da Terra são processos naturais, resultantes dos ciclos solares, da inclinação do eixo do planeta e dos próprios ciclos do carbono. Porém, o aumento da temperatura ao longo dos últimos 100 anos (na mesma proporção que caiu nos últimos 6.000 anos) não pode ser explicado pelos modelos científicos como um processo exclusivamente natural. Ele é produto da atividade humana.


Winter is coming

Um dos assuntos mais recorrentes nos últimos tempos em discussões de mercado foi o risco da indisponibilidade de insumos energéticos para a atividade econômica global. Na Europa, a falta de gás natural fez com que os custos de energia elétrica para a população subissem. Gás natural também é um importante insumo para a indústria de fertilizantes, que já teve que cortar sua produção, impactando os custos de toda a cadeia de alimentos.


Na China, a redução forçada da produção de energia termelétrica a carvão tem impactado também vários setores. A produção de aço na China deve cair 10% no 2º semestre de 2021 em comparação a 2020 e outros setores também sofrerão impactos.


Mas o que está por trás dessa falta de insumos? Já argumentamos aqui que estamos vivendo um ciclo de alta de preços de commodities. A falta de investimentos na indústria, junto com um choque de demanda por estímulos do governo, faz com que os balanços de oferta e demanda fiquem apertados.


Além disso, a preocupação ambiental com a redução de emissões de carbono também desestimulou novos investimentos em produção de combustíveis fósseis. A China é hoje uma das maiores poluentes em níveis absolutos (quantidade de emissões de GHG) e também em níveis relativos ao PIB.


Por que essa discussão é relevante?

A alta de preços de energia acontece quando os governos estão considerando retirar os estímulos econômicos pós-pandemia. Preços altos de gasolina, diesel e gás natural colocam uma pressão altista de juros ainda maior para bancos centrais de países emergentes.


Ainda não podemos precisar qual cenário que teremos pela frente. Por ora, acreditamos que os riscos de uma desaceleração econômica global seguirão mais altos e ainda não veremos retrocesso na agenda ambiental. A reunião da COP26, conferência das Nações Unidas sobre as mudanças climáticas, no início de novembro, poderá trazer maior clareza sobre essa visão.


Para o Fed, banco central dos EUA, país que é auto-suficiente em energia, a alta de preços de petróleo deve ser vista como transitória, não levando necessariamente a juros mais altos. Porém, um evento raro pode acontecer. Preços altos de petróleo e um dólar forte no mundo. É melhor que este inverno no hemisfério norte seja mais ameno.


O futuro

O final do ciclo de estímulos dos diferentes governos demanda certa cautela, mas seguimos otimistas com a capacidade de as empresas continuarem crescendo. Seguimos atentos aos riscos e oportunidades relacionados à agenda climática e seus rumos. Os preços de commodities energéticas podem continuar pressionados, pressionando os bancos centrais de países emergentes a aumentar os juros. Os Estados Unidos podem novamente descolar desse ciclo, mantendo um ritmo de crescimento relativamente mais alto. Seguimos comprados em ações, no dólar e em algumas commodities.


Agradecemos a confiança,


Dahlia



+55 11 4118-3148


CRÉDITOS FINAIS:

Cartoon: Emily Greenhalgh (disponível em: https://www.emilygreenhalgh.com/art.html)

Gráfico 1: Smithsonian Institution National Museum of Natural History, adaptado por N. Desai/Science (disponível em: https://www.science.org/news/2019/05/500-million-year-survey-earths-climate-reveals-dire-warning-humanity)

Gráfico 2: produzido pela Dahlia Capital com dados de climate.gov e NOAA (National Centers for Environmental Information)











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