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ILUSÕES COLETIVAS

  • aoliveira17
  • 1 de set. de 2022
  • 5 min de leitura

Atualizado: 1 de nov. de 2023

São Paulo, 1 de setembro de 2022.


Caros(as) cotistas e parceiros(as),


O que diferencia os seres humanos dos outros animais é a capacidade de criar coisas que não existem. Essa habilidade foi essencial para que os humanos se unissem em grupos cada vez maiores, em prol de um bem comum, mesmo que não visível e não palpável.


Foram esses grupos os responsáveis pelo desenvolvimento da fala e da escrita, que permitiram o acúmulo de conhecimento do homo sapiens ao longo dos últimos 200 mil anos.


Em nossa primeira carta, discutimos que grupos podem também ser capazes de antecipar, com maior eficácia, o futuro. Segundo Philip Tetlock, “superprevisores” agrupados em equipes que encorajam pessoas a desafiar uns aos outros de maneira respeitosa, admitir ignorância e pedir ajuda, podem ter resultados muito positivos.


Porém, grupos também têm seus vieses e podem cometer seus erros. O “pensamento em grupo” é um processo no qual grupos podem tomar decisões equivocadas ou mesmo irracionais. Normalmente, isso acontece quando críticas e dissensos tendem a ser tratados como elementos disruptivos do equilíbrio coletivo.


Todd Rose, em “Collective Illusions”, faz uma pequena alteração nessa teoria. Humanos são seres sociais. “A inclusão em grupos nos faz sentir mais felizes, seguros e mais certos de nós mesmos e de nosso lugar no mundo”. Isso cria um incentivo enorme a nos conformarmos.


A ilusão coletiva é uma situação na qual a maioria das pessoas em um grupo concorda com algo que, na verdade, individualmente discordam, simplesmente por ilusoriamente acreditar que a maior parte concorda com essa coisa.


Seres humanos são capazes de criar as narrativas mais diversas. Nós também temos uma necessidade quase inata de explicar tudo que acontece ao nosso redor. E nossos vieses nos inibem de discordar. Será então que as verdades que ouvimos por aí são sempre verdades?


Onde está Wally?

No final da década de 80, o ilustrador inglês Martin Handford desenhou Wally pela primeira vez. Um personagem alto, magro, com óculos redondos, uma marcante camisa com listras brancas e vermelhas e um gorro da mesma estampa. Qual era a graça de “Onde está Wally”? Encontrá-lo no meio de centenas de outros personagens, desenhados com os mesmos traços, em diversos cenários. Parece simples, mas nem sempre um desafio fácil de se resolver!


Neste ano, vimos grandes movimentos no Ibovespa. No início do ano, a bolsa brasileira estava barata e o fluxo de investidores estrangeiros fez com que o Ibovespa atingisse 120.000 pontos no final de março. Depois, a preocupação com a situação fiscal do Brasil, culminando com a aprovação da PEC Kamikaze em julho, fez com que o Ibovespa voltasse para perto de 95.000 pontos. Contudo, uma eleição com candidatos sinalizando uma convergência ao centro fez com que a bolsa se recuperasse de novo para os quase 115.000 pontos. Verdade? Ou será que todas essas narrativas criadas pelo mercado são parte de uma ilusão coletiva?


O gráfico abaixo mostra a comparação do Ibovespa em dólares com um índice criado com ações 100% americanas, com a seguinte ponderação: 1/3 empresas de petróleo, 1/3 financeiro e 1/3 outras commodities. Qualquer semelhança é mera coincidência?

Desafiamos os leitores a encontrar o Wally acima. Onde está o fluxo estrangeiro ou o ruído das eleições? Na Dahlia, acreditamos que fatores externos são preponderantes na explicação na movimentação dos preços de ativos brasileiros.


Três eleições e muitos desafios

Nos próximos meses, os mercados focarão as atenções para três eleições principais:


- Estados Unidos: em novembro, os americanos vão eleger os seus deputados e votar para 1/3 do Senado. A expectativa é que os democratas, percam o controle de ao menos uma das casas. Isso deverá equilibrar o poder ainda mais entre o presidente democrata Joe Biden e o Congresso.

Em nossa visão, um dos principais desafios na economia americana é a desaceleração da inflação, que hoje está em 8,5%.


A expectativa do mercado é que haja uma desinflação para próximo de 3% até o meio do ano que vem. Porém, um dos riscos para esse cenário é que os preços de petróleo podem voltar a subir. Em outubro/novembro, o governo americano deve parar de liberar estoques estratégicos de petróleo (SPR) para o mercado. O gráfico abaixo mostra o nível atual dos estoques, incluindo os estoques do SPR.

- China: no dia 16 de outubro, a China deverá anunciar os resultados do Congresso do Partido Comunista (CCP), que devem confirmar o 3º mandato de Xi Jinping, como secretário geral do partido. Para a China, os desafios são vários: 1) flexibilizar (ou não) a política de COVID zero, 2) aumento do desemprego entre jovens, que chega a quase 20%, e 3) reduzir o nível de endividamento na economia, principalmente o mercado imobiliário.


O gráfico abaixo mostra o desemprego de jovens entre 16 e 24 anos, que está em um dos níveis mais altos da história. Mas como estimular a economia para empregar esses jovens?

Com os preços de casas caindo nos últimos 11 meses, a demanda no mercado de construção continua fraca. Eis que surge o grande dilema: estimular o mercado imobiliário, que representa quase 30% do PIB, ajuda a crescer a economia, mas exacerba as distorções do setor. O gráfico abaixo mostra o nível de preços de casas em algumas cidades no mundo, em relação ao nível de renda das pessoas. Preços seguem bastante elevados na China. Sem estimular o mercado imobiliário, o governo terá que encontrar uma nova forma de fazer a economia crescer.

Brasil: Acreditamos que ao longo dos últimos seis anos, o Brasil fez uma série de reformas que ainda trarão resultados positivos para os próximos anos, como reforma da previdência, lei do gás, do saneamento e de telecom, a privatização da Eletrobras e a transferência para a inciativa privada de projetos de infra. A situação fiscal requer cuidado, mas a inflação (e a taxa de juros) alta continua sendo um dos principais problemas que o próximo governo irá enfrentar.


Porém, mesmo com a inflação ainda na casa de dois dígitos, há que se compará-la com a americana. O gráfico abaixo mostra o diferencial histórico entre a inflação brasileira e a americana, que hoje está em 1,5%, bem abaixo da média de 3,4% dos últimos 15 anos. Isso mostra que boa parte da inflação brasileira tem sido importada.

O futuro

Diante desse cenário, mantemos uma visão otimista para ativos brasileiros, principalmente ações e a moeda. Porém, os riscos no cenário global ainda preocupam, o que nos impede de ter riscos muito além das posições neutras em nossas carteiras.


Uma boa ideia. Chegamos a nossa carta de número 51. O exercício mensal de refletir sobre nossos pensamentos, tentando evitar o “pensamento em grupo” ou as “ilusões coletivas”, tem sido uma excelente ideia para nós.


Agradecemos a leitura, a escuta e a confiança,


Equipe Dahlia

+55 11 4118-3148



Créditos finais:

Imagem: Dahlia Capital

Gráfico 1: Bloomberg e Dahlia Capital

Gráfico 2: EIA e Dahlia Capital

Gráfico 3: Bloomberg e Dahlia Capital

Gráfico 4: Bloomberg, Abrainc e Dahlia Capital

Gráfico 5: Bloomberg e Dahlia Capital











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