top of page

DINHEIRO E DÍVIDA

São Paulo, 03 de dezembro de 2020. Caros cotistas, investidores e parceiros,​

Tem coisas que acontecem em nosso dia a dia, mas que não prestamos muita atenção em seu real significado. O dinheiro é uma dessas. As cédulas de reais são sempre assinadas pelo presidente do Banco Central e pelo Ministro da Fazenda e impressas pela Casa da Moeda, empresa mais antiga do país (fundada em 1694).

O dinheiro representa, assim como outros ativos financeiros, o direito de uma pessoa e a obrigação de uma outra. Se tenho uma nota de R$5 em meu bolso, toda a sociedade brasileira aceita esta nota, que pode ser trocada por outros bens ou serviços, que alguém julgue equivalente a este valor. É um direito meu e uma obrigação de toda a sociedade.

Não é à toa que as notas de dólar têm os dizeres “THIS NOTE IS LEGAL TENDER FOR ALL DEBTS, PUBLIC AND PRIVATE” (“Esta nota tem curso legal para todas as dívidas, públicas e privadas”). O curso legal impõe a aceitação da moeda, validando-a como um meio de pagamento legítimo para qualquer dívida. Ora, se moedas e dívidas do governo são emitidas pelo mesmo agente, têm o mesmo perfil de risco e moedas podem, a qualquer tempo, serem usadas para quitar dívidas, qual a real diferença entre elas? Em um paper publicado no início de 2019, Claudio Borio, economista chefe do BIS (Banco de Compensações Internacionais – o banco central dos bancos centrais), argumentou que a distinção entre dinheiro e dívida é normalmente exagerada. Países que emitem moeda não podem quebrar Países que emitem sua própria moeda, sempre poderão pagar suas dívidas em moeda local. Este princípio, que às vezes não é tão lógico para a maioria das pessoas, é uma das bases da Teoria Moderna Monetária (Modern Monetary Theory – MMT). Esta teoria, que tem ganhado muito espaço nos debates acadêmicos e financeiros, se baseia na descrição da forma como o dinheiro flui na economia. Normalmente, pensamos nas finanças de um país como pensamos nas finanças de uma casa ou de uma empresa. Nas nossas casas, não podemos gastar mais do que ganhamos. Se o fazemos, temos que tomar dívidas. Se nos endividamos demais, corremos o risco de não conseguirmos mais pagá-las.

Os proponentes da MMT (na foto, Randall Wray, professor do Bard College, um dos pais da teoria) advogam que esta visão está equivocada. As finanças de um país que emite a sua própria moeda em nada se assemelham com as finanças domésticas. Na verdade, o que ocorre é até mesmo o oposto. Países gastam primeiro e tributam depois. A arrecadação não é condição necessária para o gasto, pois eles podem financiá-lo com a emissão da moeda. Moeda e dívida seriam, em sua essência, a mesma coisa.

Isso quer dizer então que esses países podem criar moedas indefinidamente? Não. Apenas significa que a emissão de moedas e, portanto, gastos do governo não devem ser restritos pelos orçamentos impostos ou determinados por congressos. A inflação, ou a manutenção do valor da moeda no tempo, deveria ser a única restrição dos gastos do governo.

No livro “The Deficit Myth”, a economista Stephanie Kelton, uma das principais proponentes da MMT, explica em detalhes o que ela considera mitos que temos sobre o funcionamento do sistema monetário.

Se pensarmos na economia como um circuito fechado com apenas dois agentes (o público e o privado), ela argumenta que todo déficit do governo é um superávit do setor privado e vice-versa. A única forma de o setor privado expandir é através de um déficit do governo. Dívida pública é a riqueza do setor privado. O superávit retira dinheiro do setor privado, até podendo levar a recessões.


Mas então, por que os governos cobram impostos? Impostos têm três funções principais: criar uma demanda para a moeda (só podemos pagar impostos em reais), para retirar moeda em circulação e equilibrar a taxa de juros e para promover a redistribuição de renda. Isto nada tem a ver com as limitações orçamentárias de um governo. Associar um tributo a um gasto, segundo a MMT, é um erro.


Kelton também aborda um outro conceito importante. Gastos do governo não elevam as taxas de juros. Pelo contrário. Eles pressionam as taxas para zero, uma vez que esse dinheiro busca um estoque determinado de títulos públicos. Para evitar isso, o governo cobra impostos e emite títulos de dívida, retirando o dinheiro em circulação. Tesouro e Banco Central precisam de um esforço coordenado para manter a taxa de juros dentro da meta. Limites da MMT Assim como outras novidades, a MMT não é livre de críticas. Importante ressaltar que elas orbitam em torno dos usos e não na descrição do sistema monetário que a MMT traz. Em um relatório recente do banco Citibank, seus economistas apontam algumas críticas. A primeira delas é que estímulo fiscal temporário (contra cíclico) é muito diferente de uma política de déficit fiscal (altos gastos) permanente. Isso porque a decisão de cortar gastos frente a uma ameaça inflacionária caberia aos políticos que se beneficiam desses gastos para serem eleitos. A segunda é que países que não têm uma forte demanda internacional por sua moeda (o real, por exemplo) podem ter uma desvalorização maior da moeda, inibindo investimentos. A volatilidade assusta e afasta os estrangeiros. Por fim, não há garantia que os gastos serão feitos de forma eficiente, pois podem ser baseadas em decisões políticas. A alocação ótima de capital é condição para que a economia cresça de forma sustentável, superando a expansão da dívida no tempo. Como isso nos impacta? Concordando ou não, utilizar a lente MMTista nos ajuda a compreender alguns eventos econômicos recentes do mundo. Romper com a crença que mais gastos levam necessariamente a inflação ou a taxas de juros mais altas é um bom exemplo disso. O fato de vários países desenvolvidos terem uma relação dívida/PIB bem acima de 100% não seria um problema. Temporariamente, durante crises ou recessões, gastos do governo podem ser mais altos, por não causarem inflação. À medida que a economia se recupera, é o próprio crescimento do PIB que reduz o endividamento de um país. A MMT tenta também ajudar a resolver desafios estruturais da sociedade. A desigualdade do mundo tem aumentado a pressão sobre governos para promover políticas de mais equidade social. Ela pode levar a políticas como renda básica universal, serviços gratuitos de saúde ou até mesmo perdão de dívidas estudantis, por exemplo. Juros baixos e mais gastos do governo devem ser muito positivos para os preços dos ativos, especialmente para o mercado de ações. Teremos inflação no mundo? É provável que sim, mas talvez não no curto prazo. O futuro Estamos otimistas e confiantes. A notícia das vacinas é muito encorajadora, por atenuar o impacto da doença na saúde das pessoas e uma retomada mais forte das economias em 2021. As eleições municipais sinalizaram a força da centro-direita, em linha com nossa visão da Quarta Virada. Desde o início, o Dahlia Total Return teve um retorno acumulado de 75,1% (início em mai/18), o Dahlia Ações de 28,8% (jun/19) e o Dahlia Global Allocation de 28,9% (dez/19).

Obrigado pela confiança, Dahlia Capital.







321 visualizações

Comments


Screen-Shot-2021-05-29-at-12.56_edited.p

Rua Joaquim Floriano, 940, cj. 11 | Itaim Bibi | CEP 04534-004 | São Paulo, SP​

contato@dahliacapital.com.br  |  11 4118-2784  |  11 4118 3143

  • Grey Instagram Ícone
  • Spotify
  • Ícone cinza LinkedIn

A Dahlia Capital Gestão de Recursos Ltda. (“Dahlia Capital”) é uma sociedade devidamente autorizada pela Comissão de Valores Mobiliários – CVM para o exercício da atividade de administração de carteiras de valores mobiliários, na categoria “gestora de recursos”. As informações, materiais ou documentos aqui disponibilizados não caracterizam e não devem ser entendidos como recomendação de investimento, análise de valor mobiliário, material promocional, participação em qualquer estratégia de negócio, solicitação/oferta/esforço de venda ou distribuição de cotas dos fundos de investimento aqui indicados. A Dahlia Capital não realiza a distribuição de cotas dos fundos de investimento sob sua gestão e o investidor interessado deve iniciar relacionamento e/ou direcionar sua intenção de investimento junto aos distribuidores/plataformas indicados na aba "onde investir". As informações e materiais aqui dispostos não constituem assessoria ou consultoria jurídica, contábil, regulatória, fiscal ou de qualquer outra natureza em relação às alternativas de investimento e/ou assuntos diversos contidos nos documentos. A Dahlia Capital não se responsabiliza pela exatidão ou completude das informações, nem por decisões de investimento tomadas com base nas informações aqui contempladas. Algumas das informações aqui contidas podem ter sido obtidas de fontes de mercado. Mesmo com todo o cuidado em sua coleta e manuseio, a Dahlia Capital não se responsabiliza pela publicação acidental de dados incorretos, ou por quaisquer outros erros, omissões ou pelo uso de tais informações. As informações, materiais ou documentos aqui disponibilizados têm caráter meramente informativo e não consideram objetivos de investimento, situação financeira ou necessidades individuais e particulares de cada investidor, além de não conterem todas as informações que um investidor em potencial deve considerar ou analisar antes de investir em um fundo de investimento. Antes de investir, é recomendada ao investidor a leitura a lâmina de informações essenciais, se houver, o regulamento e os demais documentos regulatórios aplicáveis do fundo de investimento, notadamente o capítulo que trata sobre os fatores de risco a que o fundo poderá estar exposto (encontrados no site da CVM). O investidor deve sempre se basear, exclusivamente, em sua opinião e na opinião de profissionais especializados por ele contratados para opinar e decidir sobre os investimentos que melhor se enquadram em seu perfil, levando em consideração sobretudo os riscos e custos/taxas aplicáveis. Fundos de investimento mencionados neste documento podem utilizar estratégias com derivativos como parte integrante de sua política de investimento. Tais estratégias, da forma como são adotadas, podem resultar em significativas perdas patrimoniais para seus cotistas, podendo inclusive acarretar perdas superiores ao capital aplicado e a consequente obrigação do cotista de aportar recursos adicionais para cobrir o prejuízo do Fundo. Fundos de investimento não contam com garantia do administrador do fundo, do gestor da carteira, do custodiante ou de qualquer mecanismo de seguro ou ainda do Fundo Garantidor de Créditos – FGC. Não há qualquer promessa ou garantia de performance, sendo que eventual referência de rentabilidade passada ou histórica não representa garantia de rentabilidade futura. A Dahlia Capital não se responsabiliza por decisões, atos ou omissões do investidor ou de profissionais por ele consultados e/ou contratados.
 

PRIVACIDADE


O acesso e navegação a qualquer área deste site, a realização de aplicações em fundos de investimento cujas carteiras são geridas pela Dahlia Capital, o estabelecimento de relação comercial/contratual ou o fornecimento espontâneo de dado pessoal sob qualquer meio à Dahlia Capital são atividades sujeitas aos termos de nossa Política de Privacidade e Segurança da Informação. Recomendamos a leitura atenta e integral de referida Política antes de realizar qualquer uma dessas atividades. Em caso de dúvidas ou discordância com qualquer disposição de nossa Política, é possível entrar em contato com a Dahlia Capital por meio dos canais indicados na Política. No caso de investidores/cotistas de fundos sob gestão da Dahlia Capital, recomendamos que o contato seja feito diretamente com seu respectivo distribuidor/plataforma de investimentos. Ao acessar/navegar em nosso site, você autoriza a coleta de seus dados por meio de cookies nos termos e para as finalidades descritas em nossa Política.

PRI Sig White.png
CDP_logo_Primary_White.png
Gestao-de-Recursos-Permanente.jpg
bottom of page